a apresentação na UFBA foi para mim uma experiência muito instigadora, carregada de um sentimento de privilégio, distinção de uma intimidade consentida em momento transitório, de exposição extrema – e a dificuldade que percebi de encontrar o tom para colocar questões sobre o produto e o processo
a surpresa de reconhecer os temas, perceber que há uma revelação e que algo está sendo dito com clareza: tem um tempo transformador das ações que se alternam e se conectam, remetendo gradualmente às imagens percebidas e perseguidas nas discussões, nas referências, nas associações elaboradas a partir daquele universo delimitado em arena, confronto, escape, transição e deslocamento
entendo a relutância de ceder à narrativa, pelo que esta restringe a complexidade, leva ao entendimento fácil, simplificado, dicotomizando sutilezas, porém há um discurso consistente que se conformou no processo e foi delicioso entender o idioma deste discurso no experimento apresentado por laura, isaura e tiago
se uma narrativa pode ser a redução de um discurso, a sobreposição de diversas narrativas estabelece um campo de possibilidades de associações que permitem atribuir novas complexidades para a experiência – e penso que isso emergiu no experimento apresentado... sutilmente
para mim as associações são desencadeadas no que a cacá chama de agenciamentos: processos ativados por dispositivos disponibilizados para um certo “manuseio”, estações com entradas para deslimites, rupturas com o simples aparente - a narrativa estrutural (ou central) – permeada e constituída por meio de ações simultâneas: áudio, construção, vídeo, texto, luz, cenário, dança contemporânea, etc, para que possamos ver, ouvir, sentir, prever, narrar, lembrar, comparar, se perder e achar
pensamos na disponibilização de “estações” diferentes de áudio naquela noite, mas lembro que já tínhamos cogitado fazer isso com a luz, imagem, texto e som, como lugares de interferências propiciadas com certos limites de alcance e abrangência, abrindo e complexificando a ideia de narrativa
os números de circo são ótima metáfora se pensarmos uma certa simultaneidade deles, seus encadeamentos e dispositivos agenciadores compartilhados a partir de uma centralidade - aí sim narrativa – que permeia a todos, configura o discurso, traduz os idiomas
laura, isaura e tiago instauraram um estado de inquietação com seu experimento corporal e conseguiram deslocar o que vinha sendo formulado para um estado outro do processo